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segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Perda e luto:um difícil percurso


Perder é sempre doloroso. Por essência, o ser humano busca sempre algo mais; queremos saúde, sucesso, paz e queremos as pessoas que amamos ao nosso lado. Mas a vida não é puramente satisfação e em algum momento podemos nos deparar com o seu averso quando nos encontramos diante da morte de um ser amado. Neste momento, lágrimas tornam-se insuficientes tamanha dor sentida, não existem palavras que dêem significado ao que é sentido.
A dor da perda de alguém que se ama é tão brutal, que naquele momento desestabiliza o sujeito, que o faz sentir seu mundo desmoronar, fica sem chão, sem consolo, caindo num profundo vazio. A pessoa chora, grita, fica sem reação, como se não quisesse acreditar naquilo, esperando que tudo não passe de um sonho. Mas aí percebe-se que tudo é real, o fazendo ter a certeza que a infelicidade será o único destino. O sujeito pode chegar ao extremo de querer morrer junto com o ser perdido, em outros momentos, não podendo enfrentar tanta dor, chega ao limite da loucura, uma infeliz alternativa para não admitir o que já é fato.
Questionamentos surgem e o sujeito pergunta-se:“por que ele?” As respostas vêm de todos os lugares com intuito de confortar, quando lhe dizem: “ele está em um lugar melhor”. Estas palavras acabam ajudando, pois esse processo é necessário, sendo o início do trabalho do luto.
A psicanálise nos aponta que o luto é a atividade que a pessoa realiza quando perde alguém ou algo querido. Enquanto vivemos, nos relacionamos com as pessoas, nos apegamos a elas e investimos energia no mundo a nossa volta. A vivência do luto não pertence somente a elaboração da morte, pois devemos passar por este processo diante de qualquer significativa perda; quando somos humilhados e perdemos nosso amor próprio, quando somos abandonados por quem amamos ou quando perdemos parte do nosso corpo através de uma amputação.
É importante sabermos que o trabalho de luto é lento e natural, uma reação à perda de um ser amado, um estado profundo de desinteresse pelo mundo exterior, onde o sujeito está voltado quase exclusivamente para as lembranças do ente querido que se foi. Mas temos que viver cada dia como uma vitória, uma conquista, pois estar vivo sem a pessoa querida é uma dor indescritível, inesperada e muitas vezes irreparável, pois fica a sensação de que sempre está faltando algo na vida. Como nos diz Freud “ a morte é da ordem do irrepresentável.”
O sentimento que toma conta é o da tristeza profunda, falta de vontade de fazer qualquer coisa. É difícil se desprender das coisas, é doloroso dar adeus a algo, é insuportável ter que admitir que aquilo se foi pra sempre. A impressão que alguns tem, é a de que não vão agüentar...e a dor da perda torna-se maior do que a força para superá-la. Mas quando o sujeito procura um analista, palavras, lágrimas, desespero e silêncio podem ser escutados e acolhidos, e o sofrimento vai, aos poucos, sendo minimizado.
Depois de cumprida essa sofrida missão, pode-se novamente encarar a vida e direcionar os afetos a outro lugar. Ao assimilar tal perda, desviamos o caminho do vínculo para a saudade, uma mistura de sentimentos entre a dor da ausência e o conforto de comprovar que aquilo que se foi no mundo externo, permanece vivo dentro de nós. Continuamos sempre amando a quem perdemos, mas de outro jeito; um amor não mais aprisionado ao corpo e a sua presença viva.