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quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Entrevista com o psicanalista francês Roland Chemama.


Sintomas Contemporâneos
A psicanálise não é um tratamento como tomar um remédio. Ela deve abrir portas, expor outras dimensões da verdade. A tese emerge do livro Elementos lacanianos para uma psicanálise no cotidiano (CMC Editora, 347 páginas, R$ 45,00), que o francês Roland Chemama esteve autografando na capital gaúcha. Na entrevista a seguir, concedida a Robson de Freitas Pereira, membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (Appoa), Chemama comenta o exercício da psicanálise na cena contemporânea. Fala de depressão, fetiche, mercantilização dos desejos e contesta a propalada idéia de morte da psicanálise: - O psicanalista representa ainda a possibilidade de uma outra relação com o mundo.

Cultura - No livro Elementos lacanianos para uma psicanálise no cotidiano o sr. discute a relação da clínica psicanalítica com a literatura e a história. É possível que a psicanálise possa se servir dessa relação sem perder sua eficácia clínica?

Roland Chemama - Sim. Na medida em que reconhecemos que o inconsciente é uma expressão da linguagem, fica clara a importância de seguir o modelo pelo qual os escritores trabalharam os grandes eixos da linguagem. Antes de me tornar psicanalista, eu tinha um interesse particular pela literatura, que não se caracterizou como algo exterior à minha orientação psicanalítica. Tentarei ser mais preciso: o poeta nos dá realmente a idéia do funcionamento polissêmico da linguagem. Para ele, uma palavra tem freqüentemente sentidos variados. Acostumar-se com isso aproxima o psicanalista do funcionamento do inconsciente. Para entender o que diz o paciente, temos que cuidar da dimensão polissêmica.

Cultura - Houve um tempo, porém, em que havia um preconceito em relação a isso. Ou seja, o psicanalista poderia se interessar pela poesia ou pela literatura, desde que as encarasse como um hobby. O psicanalista teria que ser, antes de mais nada, um técnico.

Chemama - É importante distinguir duas coisas que, para um psicanalista, são bem diferentes: o saber e a verdade. O mundo contemporâneo nos faz acreditar que o mais importante é a acumulação de saberes. Esse acúmulo, no entanto, faz com que o sujeito ignore a questão de seu desejo. Ao mesmo tempo, a questão da verdade se coloca mais na literatura e na filosofia. Não digo que a literatura seja suficiente para dar ao sujeito a resolução de seus problemas, mas permite pensar alguma coisa que não se reduz ao saber positivo, técnico. Precisamente, a psicanálise não busca a eficácia técnica. A psicanálise não é um tratamento semelhante a tomar ou prescrever um medicamento. Ela deve abrir alguma coisa, expor uma dimensão de verdade e não ser o objeto de um saber.

Cultura - O sr. vem ao Brasil no momento em que elegemos um novo presidente. Em suas primeiras declarações, ele afirmou que "a esperança venceu o medo". Isso aponta para uma das grandes questões atuais: a insegurança das pessoas em relação ao que poderíamos situar como uma falta simbólica na organização subjetiva e social. O sr. concorda?

Chemama- A transição se faz de tal modo que desmente a idéia de uma falta na relação com a lei, com o simbólico. Quando o presidente atual diz o que ele diz sobre o novo presidente, ele legitima fortemente a transição, pois sentimos que remete a uma posição estabelecida na própria lei. A segunda coisa que eu poderia responder é que, se realmente podemos reconhecer rupturas fortes do laço social nas atitudes de certas camadas sociais em relação a outras, isso não se constitui, atualmente, em um fenômeno particular do Brasil. A questão é muito mais grave, é um problema para o mundo inteiro. Os homens atualmente crêem que toda a relação pode ser pensada como uma relação com um objeto. Como a técnica permite intervir sobre o corpo humano como se ele fosse um objeto, é o homem mesmo que se torna um objeto. A partir disso, se vê que a condição de uma lei, quer dizer, o exercício de uma regulação simbólica, pode ser problemática em todos os países. O que se torna mais preocupante ainda.

Cultura - Neste sentido, será que não estaríamos estabelecendo uma forma de relação perversa com os objetos ou mesmo nas relações sociais?

Chemama - Acho que sim, pois na realidade não se trata de perversão de pessoas particulares. Não é o homem em particular que é perverso. É o sistema mesmo no qual ele está inserido. De que se trata quando falamos em perversão? De um lado, há principalmente essa relação com o objeto que deve fornecer um gozo, sendo o corpo um destes objetos ao qual se pode aceder facilmente. O importante para um sujeito é ele gozar o mais fácil e rapidamente possível. Mas, na minha concepção, também acho que nesses casos há uma outra coisa em jogo: o sujeito não é só um objeto oferecido ao gozo do outro ou um sujeito que goza do outro. Ele geralmente guarda uma referência à lei simbólica, para jogar com essa lei. É neste sentido que os psicanalistas falam de uma clivagem. Sei que esse conceito não faz parte da linguagem cotidiana, mas há conceitos dos quais os psicanalistas têm que se servir como parte do trabalho psicanalítico. A noção da clivagem vem de Freud. Fala do fetichista, dizendo que o objeto-fetiche pode representar uma perda, a idéia de um falo da mãe, na qual acredita a criança. O fetiche representa isso, mas, ao mesmo tempo, não é exatamente isso. Se o fetichista somente acreditasse que a mulher houvesse tido realmente um falo, seria um delírio. Então, no fetichismo há uma clivagem, uma divisão, duas coisas acontecendo simultaneamente: a recusa da castração da mulher e o reconhecimento da castração.

Cultura - Ainda que a psicanálise modifique a noção de patologia propriamente dita, quais as patologias que o sr. encontra com maior freqüência na clínica contemporaneamente?

Chemama - Poderia continuar falando sobre a perversão, sobre a situação do sujeito em relação aos modos de gozo atuais , sobre modos particulares de gozar como a toxicomania, como o alcoolismo, como a pornografia. Já que não encontra uma satisfação completa nestas situações particulares, ele termina por fazer um recolhimento em si mesmo, deixando de agir. Normalmente, um homem ou uma mulher podem agir a partir de algo que é transmitido pelas gerações anteriores, em particular pela
relação com a geração dos pais. Os psicanalistas notam que, para um sujeito expressar seu desejo, é necessário o reconhecimento de um pai real no desejo da mãe.Se essa dimensão não é possível, uma vez que freqüentemente há uma desvalorização do desejo masculino, como no tema do assédio sexual, isso pode se tornar problemático. Hoje essa percepção de um desejo masculino, com muita freqüência visto como ilegal produz efeitos sérios. Neste sentido, penso que a patologia é principalmente uma patologia depressiva. Mais do que uma patologia de sintomas no sentido clássico, como histeria ou neurose obsessiva, estamos diante da patologia da depressão como uma impossibilidade de agir, de desejar.

Cultura - Quais são as particularidades da depressão hoje?

Chemama - A depressão é uma patologia bem conhecida, não é só uma tristeza. É uma coisa que isola o sujeito, que o impede de contatos sociais. O que dá a identidade ao sujeito é o desejo. Assim, quando ele não deseja, perde sua identidade. Há o que os psicanalistas chamam de despersonalização: o sujeito não se reconhece. O que ele é, o que faz aqui ou lá, ele não sabe. Há pessoas que pegam um transporte, viajam a uma cidade qualquer e depois não sabem o que fazem lá.

Cultura - Aqui no Brasil, à parte haver um interesse geral pela psicanálise ela com freqüência tem sua morte decretada em função de grandes "concorrências", como a psicofarmacologia ( ou neurobiologia) e a religiosidade.

Chemama - Não é a primeira vez que se fala do fim da psicanálise. Realmente, que um problema é a multiplicação excessiva de tratamentos, por exemplo, por medicamentos. O poder da técnica através dos medicamentos ou o poder de discursos que pretendem oferecer um sentido universal cada vez mais se constituem como uma sugestão, um poder estrangeiro ao sujeito. A psicanálise consegue ter um lugar porque o sujeito percebe que os discursos estrangeiros que o comandam não são suficientes. Uma prova disso, embora superficial, mas ainda assim uma prova, é a multiplicação dos filmes cujo personagem principal é um psicanalista, como se o psicanalista, atualmente, na percepção das pessoas, ainda pudesse representar a possibilidade de uma outra relação com o mundo, uma variação do ser, algo diferente. O psicanalista se mantém indispensável.

domingo, 17 de agosto de 2008

Os pais estão mal (Por Jorge Forbes)


Os Pais Estão Mal
Em seu quinto livro, o psicanalista Jorge Forbes afirma que Matrix e a música eletrônica são soluções que a juventude dá para este momento
17/12/2003


Camilo Vannuchi e Carla Gullo

Entusiasta da música eletrônica e fã do filme Matrix, o psicanalista Jorge Forbes, 52 anos, tem motivos para criar polêmica. Aluno de Jacques Lacan nos anos 70 e um dos principais responsáveis por trazer a psicanálise lacaniana ao Brasil, ele se difere em algumas opiniões. Enquanto a maioria de seus colegas considera esta uma geração individualista, Forbes elogia a atitude criativa da moçada e admira sua capacidade de lidar com a passagem da era industrial para o mundo globalizado. Idéias como essas estão reunidas nas crônicas e conferências publicadas em seu novo livro Você quer o que deseja? (Best Seller), cujo título já causa uma certa inquietação.

ISTOÉ – Qual a diferença entre querer e desejar?
Jorge Forbes – Existe uma incompatibilidade entre esses dois verbos que, no consenso, caminham juntos. Mas não é assim. Em geral, o querer está vinculado à necessidade biológica – quero comer, quero dormir – e o desejar está ligado a aspectos de prazer expressos em frases como “mais forte do que eu”. O homem é o único animal que come por apetite e não por necessidade. Escolhe entre ir a um restaurante ou ao cinema. Nossa vida é marcada por decisões que nem sempre têm a ver com necessidade.

ISTOÉ – É difícil escolher?
Jorge Forbes – Sim. Toda vez que se escolhe algo que deseja, há possibilidade de não ser compreendido. Quanto mais alguém quer ser compreendido, mais recorre ao senso comum. Por exemplo: a escolha de passar o réveillon em Copacabana tem mais chance de ser aceita do que a de ir para um lugar que ninguém conhece. Essa é uma forma careta de viver. Uma escolha média leva a uma satisfação média, a uma vida sem sobressaltos.

ISTOÉ – Mas antes o senso comum não era regra?
Jorge Forbes – Estamos entrando na era da globalização e vivemos uma mudança no eixo das identidades. Na era industrial, havia um eixo vertical. Impunham-se padrões de comportamento: o cinema e o teatro que deviam ser vistos, a profissão certa, a idade para casar... Tínhamos uma sociedade referenciada. Na globalização, as pessoas se vêem jogadas ao exercício da singularidade. Isso gera uma época de criatividade superior à outra, mas traz novos problemas como o desenfreamento do consumismo.

ISTOÉ – Você compara essa questão do desejo ao filme Matrix. Por quê?
Jorge Forbes – Matrix é um filme sobre decisão, desejo e opção. Acho que o sucesso de Matrix entre os moços se deve ao fato de estimular uma reflexão sobre a obrigatoriedade de se optar. Este é o grande problema da globalização. Uma vez que existem possibilidades multiplicadas, é preciso optar.

ISTOÉ – A música eletrônica e o Matrix são símbolos da juventude?
Jorge Forbes – São soluções que a juventude dá ao momento atual. Essa juventude se deparou com um mundo despadronizado e o nomeou mundo mix. Quando se quebra o padrão, se quebra também o diálogo como cimento fundamental do laço social, como era considerado pelos iluministas, que tinham o saber como direção principal da experiência humana. Quando duas pessoas falam com parâmetros diferentes, o diálogo é substituído por monólogo. Achava-se que a quebra do diálogo levaria à explosão do vínculo social e à barbárie. Quebramos o padrão e a barbárie não veio. Esperava-se que caíssemos em uma época de promiscuidade sexual e ela não veio.

ISTOÉ – Então o grande problema da juventude não é a tão propalada falta de perspectiva?
Jorge Forbes – Existe uma falta de perspectiva porque nossa geração quebrou os valores. Os moços de hoje têm que inventar seu futuro. Na era da globalização, são obrigados a assumir com responsabilidade o que fazem. Os laços sociais tornam-se mais frágeis no tempo e mais responsáveis na escolha. Essa mudança é um problema para quem gosta da acomodação e é uma vantagem para os que suportam a criatividade. Acho que essa geração está bem. Quem está mal são os pais.

ISTOÉ – Por quê? Os pais não se sentiram sempre desconfortáveis no mundo dominado pelos filhos?
Jorge Forbes – Acho que não. Na era anterior, os jovens se rebelavam contra os pais, mas criavam um mundo à imagem e semelhança do anterior. O adolescente de hoje não é um rebelde, mas um mutante. Ele sabe lidar com o mundo não-cartesiano. A nova geração não responde à ética do dever como nós, mas à ética do desejo. Entre o jovem de 2003 e o jovem de 1968 há uma diferença fundamental. Mudaram a ética, os laços sociais, houve uma proliferação das possibilidades, uma maior exigência da escolha.

ISTOÉ – E como serão os adolescentes nesta configuração de mundo?
Jorge Forbes – Estou quase apostando que a adolescência, tal qual a conhecemos, não haverá mais.

ISTOÉ – O que virá, então?
Jorge Forbes – Chamamos de adolescência uma fase entre a infância e a idade adulta. É uma época na qual a pessoa teria que, progressivamente, adaptar sua forma de trabalhar e de se satisfazer, em consonância com o mundo dito adulto. Essa divisão fica relativizada às particularidades de cada um, pois, se não há mais padrão, não há como manter válidas categorias como rebeldia. Só existe rebeldia se houver um padrão fixo. O exemplo da Suzane von Richthofen (a menina que planejou o assassinato dos pais, no ano passado) mostra como nossas categorias estão ultrapassadas.

ISTOÉ – Por quê?
Jorge Forbes – A violência social é nossa velha conhecida. O que nos falta são categorias para lermos suzanes, para lermos o estudante que põe fogo na sua escola para ver uma fogueira de São João, ou põe fogo no índio. Precisamos criar novas categorias para entender esse tipo de violência, que não respeita classe social.

ISTOÉ – Além desta nova violência, quais outros sintomas esta nova formação da sociedade traz?
Jorge Forbes – Um exemplo são as novas histéricas. Nós aprendemos a amar a velha histérica. Ela era legal, tinha seu charme. Contestava qualquer ordem estabelecida. Se você chegasse e dissesse a ela “eu te amo”, ela virava a cara e reclamava “só porque eu sou bonita”. A nova histérica é completamente desregulada do sentido da ordem e mais violenta. Ela é como Medéia, que matou os próprios filhos para demonstrar sua raiva por Jasão. A nova histérica busca obter o que deseja sem dó. Suzane assassinou os pais e fez um churrasco no dia seguinte não por ser uma psicótica nem uma psicopata. O psicótico não reconhece o que faz e o psicopata reconhece, mas não dá importância. Acho que Suzane não é nem uma coisa nem outra. É o exemplo atual de uma nova forma de ser, que deseja sem querer, que age por desejo, de maneira inconsequente.

ISTOÉ – A sociedade percebeu onde leva o caminho do não-limite. Isso não é uma vantagem para os pais recentes?
Jorge Forbes – Sem dúvida. Meus filhos, de 14 e 21 anos, fizeram parte dessa geração mutante. Agora, as crianças mais novas já vivem uma fase um pouco mais confortável, para a qual a vanguarda não é novidade. Nossa geração foi muito marcada pela regra de que os pais deveriam falar tudo aos filhos e estes só deveriam cumprir obrigações se as entendessem. Mas muita coisa que queremos de nossos filhos não será compreendida por eles. Os pais precisam aprender a ser arbitrários. Não dá mais para fazer sermões ou discursos.

ISTOÉ – Essa nova atitude existe em toda a sociedade?
Jorge Forbes – Em toda ela. Minha proposta é “não se justifique, não se explique”. Vale para a relação pai e filho, professor e aluno, chefe e subordinado. Não adianta querer explicar. Escrevi uma carta ao Lula, publicada no livro, em que digo isso a ele. “Você está fadado a ser incompreendido. Pára de se justificar porque não vai dar certo.” A nova liderança deve aprender a lidar com isso.

ISTOÉ – Mas não é complicado dizer a um presidente eleito que ele não deve explicações a seus eleitores?
Jorge Forbes – Ele não vai saciar jamais o pedido de explicação. Freud dizia para não tentarmos acalmar a fome do superego porque o superego é insaciável. Essa instância cobradora de posições chama-se superego. Quanto mais tentarmos nos adequar a ele, mais ele vai dizer que ainda não é suficiente: “Lula, você se desculpou aos idosos, mas você devia ter ido lá para a fila. Aliás, devia ter ficado na fila. Mais do que isso, você devia ser um idoso. Aliás, você devia ter morrido na fila.”

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

“ Eu me desenvolvo e evoluo com o meu pai”







No mês de agosto não poderíamos falar em outro assunto que não fosse o dia dos pais. Sabemos o quanto esta data é marcada comercialmente, no entanto, também é um momento onde as pessoas podem homenagear seus pais, com demonstrações de carinho e afeto.

Nos orientamos a partir de posições a serem ocupadas: ser filho, ser irmão, ser mãe, ser pai, enfim, atribuímos uma identidade para nos relacionarmos socialmente. A busca é a da construção de uma família, não interessando como ela será formada, já que a família é a instituição anterior a qualquer sociedade. Podemos dizer então que o que acontece com a família se reflete no social, e vice-versa.

Com a revolução industrial, houve maior necessidade da participação da mulher no mercado de trabalho, e isto trouxe diversas conseqüências dentro da família. A mãe era responsável pelos cuidados e educação dos filhos e o pai, o provedor, quem sustentava financeiramente a família. Mas como ficaram os papéis dentro da família? Quem é pai e quem é mãe?

É sabido por todos qual a função da mãe, a de gerar um filho, cuidar, transmitir afeto, suprir todas as suas necessidades físicas e mentais, pois no momento em que nasce uma criança, a vida da mãe fica fundida com a do seu filho, há uma relação única. Mas então,qual seria a função do pai? O pai é aquele que representa a lei maior, é quem nos oferece a chance de seguir com a vida, de lidar com as frustrações e assim, evoluir. Quando dizemos função, é para deixar claro que o exercício da mesma, não é necessariamente feito pelo pai biológico, mas sim aquele ou mesmo aquela que possibilitam que a criança possa, aos poucos separar-se dessa relação exclusiva com a mãe, e conhecer um novo mundo, que possui normas, regras e leis que estarão impostas durante toda a sua vida.

O pai estaria atuando nessa relação intensa e necessária entre mãe e filho, retirando aos poucos o investimento total que é direcionado ao filho, e voltar-se a um terceiro (que pode ser ele mesmo). O bebê fica com fome e ao chorar a mãe o alimenta, fica com sono e a mãe o faz dormir, portanto, o que predomina nesse momento é a onipotência infantil, onde a criança não é submetida a nenhum limite. Mas, se o pai não entra nessa relação, como esse ser que tem suas necessidades todas atendidas irá conseguir se formar como alguém independente? É aí que a função paterna entra, pois o corte inicial estabelece um primeiro não, a esse “serzinho” que acha que pode tudo, passa a entender que para se socializar terá que aprender a respeitas as regras.

O que queremos dizer com tudo isso, é que vemos as famílias hoje não mais como antigamente, uma família “completa’ e quem acaba sofrendo as conseqüências são os filhos. tais comportamentos podem trazer dificuldades, pois os mesmo perdem a oportunidade de desfrutar dos ensinamentos paternos, o que pode causar prejuízos em seus relacionamentos futuros; em lidar com a vida e com os limites. Portanto, cada atitude e gesto realizado por quem exerce a função paterna, fazem-se necessários para a formação de uma criança.

Mas simplesmente se dizer pai, não é o suficiente, nem pelo verdadeiro pai, e nem pelo que se diz cumprir tal papel. Ser pai é muito além de ser um pai jurídico ou um pai biológico, tem que ser pai de coração, emoção, dedicação e doação.


Raquel Gomes da Silva e Roberta Santos Gondim



der que para se socializar termesmo). aos poucos separar-se dessa relaç

quarta-feira, 6 de agosto de 2008


Todo mundo quer amor
ENTREVISTA / JORGE FORBES PARA REVISTA MARIE CLAIRE


O psicanalista e psiquiatra Jorge Forbes* fala que a felicidade amorosa não tem garantia. Ele acredita que buscá-la é obrigação de todos. Mesmo sabendo do risco de se machucar no caminho.

Marie Claire: É impossível ser feliz sozinho?
Jorge Forbes: Todo ser humano necessita de alguém que o incomode, que o desafie todos os dias. Quando acontece o encontro, um acorda o outro e é bom, as pessoas precisam de alguém que as retire do comportamento individualista. A mulher deve ser "a pedra no caminho" do homem, como nos versos de Carlos Drummond de Andrade. É ela quem alerta o homem, porque ele é mais acomodado e ela é mais inquieta. O encontro faz com que os dois tenham motivo para reinventar a vida todos os dias. Mas felicidade dá trabalho.

MC: Fixar-se na falta do parceiro é uma atitude infeliz?
JF: Idealizar que o parceiro é a fonte da felicidade tem dois lados ruins:
1. Enquanto está sem par, a pessoa desvaloriza as outras conquistas da vida, que também são importantes, mas acabam passando despercebidas.
2. Se, por acaso, consegue que seu relacionamento amoroso atinja seu ideal de felicidade, está fadada a perder essa situação, já que nenhum relacionamento é ideal eternamente.

MC: Como realizar o sonho de ser feliz no amor?
JF: Tentar ser feliz é obrigatório. Realizar é uma sorte. Para chegar um pouco mais perto, aí vão alguns lembretes:
1. Não acredite em conselhos que tenham em sua composição a palavra "dever".
2. Esqueça regras pré-concebidas. As formas de satisfação a dois só podem ter uma regra – o comum acordo entre os parceiros.
3. Os parceiros podem contar todas as fantasias amorosas um para o outro: contar sempre, realizar quando der.
4. Jamais tente compreender a felicidade. É preciso suportar o inusitado dela, mesmo se você não compreende o que está acontecendo! Com medo de que a felicidade acabe, as pessoas ficam tentando descobrir a receita para repetir exatamente o que aconteceu, na tentativa de aprisionar o momento feliz. Mas toda vez que se constrói uma prisão, a felicidade acaba.
5. A base da felicidade é o novo, a originalidade. Ela é a possibilidade de viver fora do padrão e de reinventar a vida. Quem ousa tem mais chance de ser feliz.

MC: Dizem que"casamento é loteria". O senhor acha que felicidade é questão de sorte?
JF: Concordo que o amor é um encontro por acaso. A essência do relacionamento não se pode prever e nem medir. Todo balanço pré-nupcial tem um elemento imponderável, por isso os mais velhos costumavam dizer que "quem pensa muito não casa". A razão é simples: é impossível entender plenamente por que se está casando.

MC:A felicidade depende da maturidade?
JF: Isso não garante nada. A maturidade é uma chatice que a civilização impõe. A felicidade é poder manter algo dos 5 anos de idade e não ser taxado de débil mental. Felicidade é a força bruta do desejo, que dá o impulso para que as coisas se realizem.

MC: "Tenho medo da dependência" é outro clichê moderno para fugir da intimidade emocional.
JF: Atrás dessa frase há sempre uma pessoa querendo muito ser dependente. Ao encontrar alguém aparentemente disponível, agarra-se a ela como garantia de segurança emocional, econômica, social, espiritual... mas isso não é felicidade. Há sempre uma diferença radical entre dois parceiros: amor é o nome que se dá à ponte que recobre temporariamente essa distância entre eles. Mas a diferença sempre vai reaparecer, é inevitável. A felicidade é tênue, um encontro provisório. Não é standard, nunca é fixa.

MC:Esperar que a relação seja fonte de felicidade revela uma visão idealizada do amor?
JF: Tratar a relação amorosa como um tapa-buraco para as dificuldades da vida é exigir demais do parceiro, que acaba tendo uma responsabilidade que desconhece e com a qual não pode arcar. Relacionamento amoroso ajuda, sim, mas indiretamente: fornece energia e entusiasmo para enfrentar a vida.

MC:O que precisamos saber para amar e ser feliz?
JF: Que não existe garantia. Todo amor é um contrato de risco e nisso reside sua graça e sua desgraça. Graça, quando contribui para aumentar o entusiasmo na vida. Desgraça quando deixa a pessoa desarvorada – a pior reação de uma mulher frente à perda de um amor, segundo [a escritora] Marguerite Duras.

MC: Mulher sofre mais por amor do que homem?
JF: Geralmente, sim. O abatimento da mulher é maior porque a capacidade feminina de amar é infinitamente superior à do homem.

MC: Felicidade é uma responsabilidade pessoal?
JF: Pessoal e intransferível. Quem espera que o outro lhe traga a felicidade é porque se acomodou. Colocou o parceiro no lugar da mãe que levava o Toddy na cama.

MC: Na carência afetiva, corremos o risco de consumir o outro como um "antidepressivo"?
JF: Transformar amor em remédio é perigoso, felicidade não é artigo de consumo. A relação amorosa tem duas vertentes: a afetiva e a sensual. A afetiva é cuidado, segurança, companheirismo – é repetição. A sensual é invenção e nada tem a ver com o cuidar – envolve surpresa, uso sexual recíproco e tem uma vertente enigmática. Quando as pessoas estão carentes, tendem a desenvolver a corrente amigável e sufocar a sensual. Aí o amor acaba. Quem se preocupa demais com o dia-a-dia costuma fazer mal amor à noite.

MC: A felicidade amorosa quase sempre vem acompanhada do medo da perda, do abandono ou da traição. Como superar isso?
JF: Quando se gosta de alguém, a tendência é ficar vulnerável. Amar é suportar ser ridículo. A partir dos 30 anos as pessoas estão escaldadas, já tiveram decepções amorosas. Daí o medo. Mesmo assim, vale a pena arriscar novamente, ainda sabendo que pode se ferrar de novo. Mas se a pessoa só se ferra, é hora de desconfiar de suas más escolhas. Tem gente que tem prazer em sofrer.

MC: A euforia do começo da paixão pode ser chamada de felicidade?
JF: A paixão pode ser chamada de felicidade, mas, quando se transforma em um ideal de vida, fica supervalorizada e representa um perigo. Fica bonito no teatro, mas é muito triste na vida real. Daí personagens como Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Abelardo e Heloísa... Morreram porque tentaram eternizar a paixão. Quando os envolvidos querem manter intocável a paixão, quando não suportam mudança ou interferência, acabam selando um compromisso de morte.

*Jorge Forbes é presidente do Instituto de Pesquisas e Psicanálise de São Paulo; membro da Escola Européia de Psicanálise e autor de vários livros. O mais recente é "Da Palavra ao Gesto do Analista", pela Jorge Zahar Editores

A era do prazer

A era do prazer

Entrevista com Charles Melman
REVISTA: Isto É - 22/09/2004

Novo destaque da psicanálise, Charles Melman afirma que os indivíduos nunca pensaram tão pouco como hoje e que as ideologias acabaram.

O psicanalista austríaco Sigmund Freud (1856-1939) e o francês Jacques Lacan (1901-1980) provocaram uma revolução ao desvendar com mais profundidade o funcionamento da mente. Embora suas teorias continuem vigorando, o homem que eles analisaram tem diferenças fundamentais em relação ao cidadão do século XXI. Com o cuidado de não minimizar o conhecimento de seus antecessores, o psicanalista francês Charles Melman, 73 anos, está causando uma nova revolução na psicanálise com o livro O homem sem gravidade, gozar a qualquer preço (Ed. Companhia de Freud). Melman faz um retrato de corpo inteiro do novo homem, que põe o prazer à frente do saber e prioriza a estética em detrimento da ética. “O excesso se tornou norma”, diagnostica, com sua voz calma e pausada, à beira da piscina do Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Melman esteve na cidade participando de um seminário sobre os laços conjugais na modernidade. O evento, com o título Será que podemos dizer, com Lacan, que a mulher é sintoma do homem?, foi promovido pela associação psicanalítica Tempo Freudiano.

Apesar de ser um dos profissionais mais badalados do momento na psicanálise, seu tom nada tem de arrogante. Melman foi um dos principais colaboradores de Lacan, que o escolheu para dirigir a Escola Freudiana de Paris. Ele fundou a Associação Freudiana Internacional, que mais tarde passou a se chamar Associação Lacaniana Internacional. O psicanalista evita injetar julgamento nas conclusões alinhavadas em seu livro. São constatações sobre a vida moderna, na qual ele vê aspectos positivos, entre os quais a "formidável liberdade", e negativos, como o processo de substituição das neuroses pela depressão. O que ele batiza como "nova economia psíquica"; teria, entre outras coisas, transformado o sexo em uma mercadoria como outra qualquer. Até a morte perde sua sacralidade, segundo Melman. Para ele, a exposição sobre arte anatômica – que está correndo o mundo desde 1997 e exibindo cadáveres plastificados e suas entranhas – seria um forte indício dessa tendência. “A questão atual é exibir. Exibir as tripas, o interior das tripas, o interior do interior”, analisa.

ISTOÉ – O que é a Nova Economia Psíquica?
Charles Melman –
Hoje a saúde mental já não se origina mais da harmonia com o ideal de cada um, mas do objeto que possa trazer satisfação. Não há limites. Há uma nova forma de pensar, de julgar, de comer, de transar, de se casar ou não, de viver a família, a pátria e os ideais. Essa nova economia psíquica é organizada pela exibição de prazer e implica em novos deveres, dificuldades e sofrimentos. A partir do momento em que há no sujeito um tipo de desejo, ele se torna legítimo, e é legítimo esse indivíduo encontrar sua satisfação. A posição ética tradicional, metafísica, política, que permitia às pessoas orientar seu pensamento, está em falta. O excesso se tornou a norma.

ISTOÉ – Quais são os aspectos positivos e negativos disso?
Melman –
Cada um pode satisfazer publicamente suas paixões contando com o reconhecimento social, incluindo as mudanças de sexo. Há uma formidável liberdade, mas ela é estéril para o pensamento. Nunca se pensoutão pouco. O trabalho do pensamento é comandado por aquilo que produz obstáculo. Mas nada mais representa obstáculo, não sabemos o que há para pensar. O sujeito não é mais dividido, não se interroga sobre sua própria existência. Como faltam referências, o indivíduo se vê exposto, frágil e deprimido, necessitando sempre da confirmação externa. Assim, o eu pode se ver murcho, em queda livre, gerando uma frequência de estados depressivos diversos.

ISTOÉ – Como o sr. descreveria o indivíduo nessa economia psíquica?
Melman –
A imprensa e a mídia substituíram as fontes de sabedoria de outrora. Daí resulta um indivíduo manipulável e manipulado. Suas escolhas, opções e comportamento de consumidor é que organizam seu mundo. É uma forma de identificação que, me parece, não foi observada por Freud nem por Lacan.

ISTOÉ – De que forma se dá o rompimento do modelo gerador de neuroses desvendado por Freud – no qual a relação com o mundo é marcada pela ausência do objeto querido – e que consequências tem esse rompimento?
Melman –
Com o desaparecimento do limite, não há mais o sujeito do inconsciente de Freud, que se expressava por seus sonhos, lapsos e atos falhos. Se houve uma descoberta feita por Freud é a de que nossa relação com o mundo não se dá por intermédio de um objeto, mas pela falta dele. No complexo de Édipo o objeto em falta é a própria mãe. A pessoa precisava passar por essa perda para estabelecer suas identificações sexuais. Hoje, para se ter acesso à satisfação não é mais preciso passar pela perda, que era uma fonte de neuroses. Do conjunto de pessoas que se consultam nos serviços hospitalares, 15% são casos de depressão. Há, portanto, a emergência de um novo sintoma, a depressão, no lugar das neuroses de defesa.

ISTOÉ – O prazer sexual estaria se banalizando?
Melman –
O sexo realmente se banalizou. É encarado como uma necessidade, já que caiu por terra o limite que o tornava sagrado. Quando se fala em liberação sexual, não se fala mais no desejo. O homem contemporâneo trata o desejo sexual, de certa forma, como simples atividade corporal. A nova economia psíquica faz do sexo uma mercadoria entre outras.

ISTOÉ – De que forma a exposição sobre arte anatômica, apresentada desde 1997 e ainda correndo o mundo, influenciou suas idéias?
Melman –
Com essa exposição a morte deixou de ser sagrada. Passou a ser mais um bem de consumo. Os cadáveres, protegidos da putrefação por modernas técnicas, viram corpos plastificados expostos à visão. Algumas vezes com o interior do cérebro, do sistema digestivo e até um feto dentro do útero à mostra. Milhares de pessoas estão fazendo filas nos museus para ver a exposição. Estamos ultrapassando os limites. Até então, uma das características da espécie humana era destinar seus mortos à sepultura, com o respeito que costuma cercar a morte. A questão atual é exibir. Exibir as tripas, o interior das tripas, o interior do interior.

ISTOÉ – Então não há mais nada que choque as pessoas?
Melman –
Há sim, a pedofilia. Mas, de qualquer forma, os programas de televisão e a imprensa mostram os casos mais escabrosos em detalhes e todos se interessam por esse tipo de noticiário, como se fossem os fatos da atualidade. As jovens que foram violadas acabam sendo exibidas como mais um objeto.

ISTOÉ – Por que a figura paterna foi esvaziada, assim como o lugar da autoridade de uma maneira em geral?
Melman –
O problema do pai, hoje, é que não há mais autoridade, ou a função de referência. Sua figura se tornou anacrônica. Nas famílias, o pai e a mãe passam a ter as mesmas atribuições, o que dificulta a identificação dos filhos com a figura masculina e com a feminina.

ISTOÉ – Por que o sr. diz que a vida política está desértica?
Melman –
Os jovens sempre foram revoltados com a injustiça social. Hoje, no entanto, eles só têm uma vontade: participar da vida social. Eles não protestam contra as injustiças. Querem apenas encontrar um meio de gozar logo os prazeres da vida social. Por outro lado, muitos cidadãos podem constatar que falta potência ao poder político diante das forças econômicas, verdadeiras ‘mestres’ da situação. Então por que se engajar na vida política se ela é impotente para corrigir as desigualdades e dificuldades da vida social? Hoje, acabaram as ideologias, as palavras de ordem e até mesmo as utopias. Os indivíduos preferem eleger pessoas que souberam gerir bem seus negócios. Não há mais confiança nos políticos.

STOÉ – Por que tanta desconfiança?
Melman –
Porque nessa sociedade permissiva todas as figuras de autoridade parecem abusivas, é como se não ocupassem mais o seu lugar. É a mesma coisa com o pai na família.

ISTOÉ – Quais são as características desse homem “sem gravidade”?
Melman –
Faltam ao homem de hoje qualidades que lhe seriam singulares. Temos mais a impressão de uma generalização dos traços que se tornaram comuns a todos os cidadãos. É como se eles tivessem mais ou menos as mesmas qualidades e defeitos.

ISTOÉ – Isso pode ser um dos resultados da globalização?
Melman –
Sim. Fui há alguns dias ao Chile, no deserto de São Pedro de Atacama. Lá há um oásis com três a quatro mil pessoas, a maioria de jovens originados do povo inca, que habitava a região. Pelo que se interessam esses jovens de origem indígena, no fundo do deserto? Pelos mesmos objetos de consumo oferecidos em Xangai, no Rio de Janeiro e em Paris. O que vale sua cultura de origem em relação a esse culto de objetos? Nada.

ISTOÉ – Como a estética está ocupando o lugar da ética?
Melman –
O número de jovens que querem fazer teatro é inacreditável, mesmo
os que já têm diplomas profissionais importantes. Por quê? A única maneira hoje de ser aceito pelos outros é estar em cena, captar os olhares, agradar, ser sedutor, ou seja, a imagem de cada um é que se tornou decisiva para ser aceita e, eventualmente, para ganhar dinheiro. Esses progressos da estética são um ponto positivo da nossa cultura. Por que não? É agradável ver jovens esteticamente cuidados. Mas se torna um problema quando é o principal meio que eles têm para serem admitidos e reconhecidos.

ISTOÉ – O sr. diz que a corrida à juventude perpétua gera um sentimento de desamparo, de falta de referências, ansiedade e cansaço. Pode explicar melhor?
Melman –
Nossa nova economia psíquica é muito jovem. As gerações precedentes estão desorientadas pelos novos problemas. Ser jovem é dar testemunho de que se participa dessa nova moral e inteligência. Mas, em geral, é bastante difícil se manter nessa posição. Há, portanto, ansiedade no indivíduo pelo medo de não ser mais reconhecido e apreciado. Antigamente as pessoas idosas eram respeitadas por sua sabedoria. Hoje, são rejeitadas pela velhice dos valores morais, que já não interessam.

ISTOÉ – Quais as influências da publicidade sobre esse novo indivíduo?
Melman –
Os publicitários são muito inteligentes. Precisam transformar o objeto de necessidade em objeto de desejo. Sabem que podemos nos desinteressar do objeto de necessidade rapidamente, mas o desejo é permanente. Quer dizer, quando a publicidade quer vender um iogurte é preciso apresentá-lo como um produto estranho, enigmático. A publicidade tem um papel pedagógico, que vai no sentido da liberalização dos costumes. E as crianças são muito sensíveis às suas mensagens.

ISTOÉ – O sr. diz que a mídia também tem um papel importante nesse contexto.
Melman –
Considerável. Como não temos mais grandes textos de referência, a mídia se tornou nosso meio para pensar. Ainda assim, a parte informativa dos jornais diminuiu muito em relação às simples notícias da atualidade. Só interessa ao leitor o que o toca, diretamente ou por ligação afetiva.

ISTOÉ – A nova psique, segundo o sr. diz, está criando também um novo fenômeno linguístico. Estaria surgindo uma nova língua?
Melman –
Os jovens se comunicam por torpedos (mensagens eletrônicas via celular) com uma nova escrita, que tende ao desaparecimento das vogais. O privilégio é das consoantes, com uma ortografia completamente livre, fundada na idéia de que o receptor é incapaz de decifrar minha escrita. É uma escrita que inventa cada frase em particular. Acredito que teremos em breve rmances escritos com essa nova linguagem. Os efeitos disso ainda não são previsíveis, mas trata-se de um processo divertido e interessante.

ATENDIMENTO PSICOLÓGICO



RAQUEL GOMES DA SILVA
PSICÓLOGA
CRP-10: 02864
ESPECIALISTA EM TEORIA PSICANALÍTICA
CEL: 88540444