
Hoje, lendo este livro da Psicanalista Roudinesco, mais uma vez me dei conta do que constantemente esbarramos no fazer psicanalítico: o constante e desenfreado uso de psicotrópicos. Lembrei da história de um conhecido que, sentindo-se angustiado, foi orientado a procurar um tratamento. Sem ao menos saber que psicólogos ou analistas não prescrevem medicação, saiu indignado do consultório, pois a incompetente analista não foi capaz de ajudar e lhe passar um remedinho. “Ela ao menos poderia ter indicado um psiquiatra. Hoje em dia ninguém tem tempo!!”. Não há tempo para sofrer, para falar de angustia; o tempo que se tem é para ganhar dinheiro, ganhar o mundo. O grande problema é que o sofrimento psíquico não tem tempo pra chegar e nem para sumir! E quando aparece, desestrutura, desestabiliza.
Que a depressão é a doença do século não é novidade! A maioria conhece seus sintomas, muitos dizem já ter vivenciado, mas poucos tem interesse em descobrir sua origem. Pra que cutucar a ferida se eu posso engolir alguns comprimidos e seguir adiante? As dores da alma, muitas vezes, são sentidas no corpo e é no corpo que as pessoas acreditam que devem ser tratadas com overdoses de medicamentos. Não quero desmerecer a eficácia dos psicotrópicos, são ferramentas que colaboram e algumas vezes são indispensáveis para o sucesso de tratamentos. Mas não há quem possa dizer que são suficientes!
A psicanálise vem sendo severamente atacada com críticos que afirmam sua ineficácia e justificam qualquer sintoma e comportamento humano através de mecanismos puramente químicos e genéticos. Mas se ela está perdendo lugar, também é porque os próprios pacientes preferem acreditar que seus sintomas tem origem orgânica e rejeitam indícios de relação com a sua história, com a sua constituição. Como diz Roudinesco: “ Em lugar das paixões, a calmaria, em lugar do desejo, a ausência de desejo, em lugar do sujeito, o nada, e em lugar da história, o fim da história.”
Não posso ser injusta nem radical! Ainda existem psiquiatras e pesquisadores de outras áreas que valorizam a importância de um processo analítico. Quem se permite conhecer, sem preconceito ou narcisismo enceguerante, sabe do seu papel científico, social, e, sobretudo, subjetivo. É pra isso que estamos aqui!
Roberta Gondim.