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domingo, 24 de janeiro de 2010

“Brincar também é coisa séria”


ARTIGO OUTUBRO-09

Pensar na infância é pensar em uma fase do desenvolvimento com típicas necessidades. Sabemos o quanto uma criança precisa ser cuidada, olhada, investida. Mas nem sempre foi assim. A história da criança passa pela história humanidade. Em outros tempos, a criança era vista como uma espécie de adulto em miniatura: tinha vida sexual ativa, trabalhava e muitas vezes não era valorizada, pois não tinha força para executar suas tarefas. Ainda bem que não paramos no tempo e hoje a situação é bem diferente, apesar das faltas ainda marcantes em relação ao que realmente elas necessitam para um processo de constituição saudável.
A criança passou a ter seu lugar delimitado, passou a ser reconhecida como sujeito com necessidades específicas e o brincar inclui-se como fator primordial para a criança, passando a ser objeto de estudo de psicólogos e psicanalistas, como uma forma de comunicação dos seus desejos e conflitos.
Infelizmente, com a correria do mundo cotidiano, os pais acostumam seus filhos desde cedo a ter uma agenda recheada de tantas obrigações: é a escola, depois o reforço, depois a natação...ufa! A criança acaba não tendo tempo nem para brincar.
A brincadeira não existe apenas para as horas vagas da criança, afinal de contas, brincando, as crianças repetem, constroem, destroem, inventam, na tentativa de criar sentido para seus atos, para seu “querer dizer”. Brincando, ela representa sua historia, encontra oportunidade de expressão, de manifestação do que realmente esta sentindo e assim pode falar de algo que é sério para ela.
A criança, através da brincadeira, cria um mundo para si, podendo ter a onipotência de ser quem quer, quem deseja, ou mesmo o que os outros desejam que ela seja, sem exigências sociais. Ela pode também eliminar seus impulsos agressivos, por exemplo, sem ter que dar satisfação do porque faz aquilo. O brincar, para a criança, tem um significado tão importante quanto trabalhar, se comunicar, se relacionar afetivamente, para o adulto. A partir da brincadeira, a criança passa a gerar sua realidade interna e externa, passa a desenvolver algo que será fundamental para sua personalidade, a fantasia.
Para a psicanálise, a importância não está no uso de teorias e técnicas específicas para trabalhar com crianças, apesar da enorme relevância atribuída a fase infantil. Na realidade, a atuação é feita através da escuta; escuta baseada no discurso próprio da criança, capaz de atingir inclusive, as formações de seu inconsciente, por meio de seus relatos, sonhos, desenhos e outras formas lúdicas,
Não é tarefa fácil penetrar no universo infantil e muitas vezes os próprios pais sentem-se perdidos e desamparados por não conseguirem perceber o que está sendo manifestado pela criança. Durante o processo analítico, a criança pode fazer contato com suas dores em um ambiente seguro, podendo obter grandes resultados psíquicos. Nesse momento, a criança não pode estar desvinculada de uma escuta dos pais, do lugar que os mesmos a concebem. Que fantasias construíram a respeito desta criança que apresenta algum sintoma? Ela, por sua vez, não sentará no diva para ficar falando de seus devaneios, de suas angustias, de seus sofrimentos, assim como esperamos de um adulto. Ela irá brincar e através da brincadeira, passará por seus fantasmas, sinalizará o que está errado, demonstrará, assim, como se comporta e como se dá sua relação com pai e mãe.

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