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domingo, 24 de janeiro de 2010

A amizade é um amor que nunca morre” (Mário Quintana)


ARTIGO NOVEMBRO-09

O fim do ano se aproxima e alguns vão ficando mais reflexivos. A essa altura já começamos a contabilizar nossas conquistas e perdas, mas que tal também lembrarmos das coisas boas que temos e conseguimos preservar? Em tempos egoístas onde o tamanho da felicidade parece estar no tamanho da conta bancária e naquele requisitado compromisso social que este ano você finalmente conseguiu ser convidado, não podemos esquecer que o que realmente importa ou pelo menos deveria importar ainda “são outros quinhentos”. Por que não agradecer, por exemplo, a conquista ou permanência de uma grande amizade que por mais um ano sobreviveu ao corre-corre, ao mundo virtual de orkuts, facebooks e e-mails da vida? Aquela amizade que a cada dia supera distäncias, fofocas, diferenças e os desentendimentos nossos de cada ano?
Psicanaliticamente, eleger alguém como amigo vai além de encontrar um parceiro disposto a escutar de você suas dores e amores. Quando existe amizade, é porque de alguma forma essas pessoas compartilham algo. Nos identificamos com uns e não com outros por componentes de admiração e sintonia que podemos enumerar, mas também por questões que tem muito de nosso inconsciente. Nossas relações de amizade, tem a ver com nossos percursos iniciais, momento em que experimentamos o prazer sentido ao receber afeto daqueles que nos cuidam. Os primeiros laços que construímos de afeto surgem dentro do berço materno, e conforme nos desenvolvemos, nos socializamos, desperta uma necessidade de nos relacionarmos no círculo extra-familiar, ao qual se torna essencial para o processo de subjetivação. É a nossa jornada na busca de identidade, o encontro entre as pessoas nutrido a partir de um sentimento que é a amizade.
Buscamos ter um amigo, porque aquele amor recebido por nossa mãe, na tenra idade já não é mais único para nós, pois ela começa a se interessar por outras coisas além de nós, e como forma de tentar reparar esta marca, estabelecemos o laço da amizade. Os traços que se fixam inconscientemente a partir das nossas primeiras relações serão fundamentais para as futuras buscas de amizade.
Mergulhar numa amizade implica em abertura para o outro, a possibilidade de se deixar invadir pela troca, sem que isso atrapalhe nossa subjetividade. A amizade consente a busca das diferenças, aperfeiçoa nossas particularidades, espera de nós o insólito a cada contato, mesmo já conhecendo cada atitude um do outro. Isso não é tão fácil assim!
Para escrever este texto, não foi apenas o fim do ano, mas a perda de uma pessoa querida que nos fez pensar no valor que deve ter uma amizade. Em um trágico acidente foi perdido um amigo, um irmão, um filho, uma alegria, um sonho, uma aventura, uma liberdade. Perdemos o Alexandre! Mas finalizamos com uma frase de Mário Quintana que faz com que pensemos que as coisas materiais são efêmeras, iniciam e acabam em um processo cíclico, mas os sentimentos perduram dentro de nós até o fim. “A amizade é um amor que nunca morre”.