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domingo, 24 de janeiro de 2010

Qual o sentido do amor?


ARTIGO JUNHO-09

Ah, o amor! Tema intrigante e preferido dos apaixonados, é também assunto comum em mesas de bar, livros, pesquisas, nos conselhos entre amigos e em consultórios psicológicos e psicanalíticos. Não por acaso, todos já sentimos um grande amor- seja ele pela mãe, alvo do nosso intenso amor inicial; seja pelo amiguinho da escola, quando ainda nem sabemos definir tal sentimento; aquele amor sofrido que muitas vezes nem é correspondido; e por que não, o amor que nos toma quando entramos em processo analítico, conhecido como amor transferencial? Amamos nossos pais, filhos, irmãos, amigos, companheiros, analistas, mas principalmente, amamos ser amados. Freud, em seus textos, muito nos disse sobre o amor. Para ele, a escolha de quem amar tem a ver com repetição. Temos uma demanda de amor que vem desde o início de nossas vidas: precisamos que nossa referencia materna nos transmita seus cuidados e afetos e isso se manterá durante nossas vidas, quando, inconscientemente, repetimos aquela relação primeira em nossos futuros relacionamentos, na busca por felicidade. Também podemos amar baseados em um amor narcisista, quando procuramos alguém que é como somos, como fomos ou mesmo gostaríamos de ser. Ao nos apaixonarmos, idealizamos nosso parceiro, buscando nossas características nele e quando não encontramos surge então a frustração. É preciso ter certo jogo de cintura para entender que o que buscamos é humanamente impossível. Afinal, não existem duas pessoas idênticas. Muitos acreditam no amor romântico, puro. A promessa de felicidade que nos é transmitida nos contos de fada, nos faz ir em busca do nosso verdadeiro amor, uma tentativa de evitar o confronto com a “dura realidade”, o mal estar próprio da condição humana. Amar e ter esse amor retribuído aproxima o sujeito da ilusão de completude. O que a psicanálise nos acrescenta é que nós somos seres faltosos, sempre nos queixaremos de algo, mesmo que nos conformemos com o que conseguimos alcançar. É só observar: não demora muito, já estaremos nos queixando de outra coisa.
Não podemos esquecer as pessoas que verbalizam que sonham em ter um grande amor, de amizade e confiança mas que tem medo de sofrer uma decepção amorosa. Quando elas se relacionam, ao temer a desilusão, passam então a sabotar a relação tão almejada, chegam a fugir de relações mais sérias e afetuosas a partir de desconfianças sem fundamentos, ciúmes exacerbados, tratando seu companheiro como sua posse, seu objeto. Que sufoco! Isso acontece por uma espécie de resistência do sujeito, na tentativa de evitar a dor de uma possível e temerosa perda. Freud afirmava: “nunca nos achamos tão indefesos contra o sofrimento como quando amamos, nunca tão desamparadamente infelizes como quando perdemos o nosso objeto amado ou o seu amor”.
O amor, porém, ainda é um sentimento muito enigmático,que muitas vezes não sabemos definir ou decifrar. Como diria Fernando Pessoa: quem ama nunca sabe o que ama / nem sabe por que ama, nem o que é amar”.

Um comentário:

Unknown disse...

Interessante. A psicanálise no inicio nos mostra uma face bem contraditória... ao ponto de acharmos que não tem nada a ver com os conflitos humanos, aí nos damos conta: O que é mais contraditório do que o ser humano?